quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Entendendo a Depressão

A tristeza é dos sentimentos humanos o mais doloroso. Todos nós tomamos contacto com ela em algum momento de nossas vidas. A tristeza passageira, a "fossa" ou "baixo-astral", o "estar down" fazem parte da vida, e são superados após algum tempo. O luto, após a perda de um ente querido, manifesta-se por um sentimento de tristeza e vazio e também é superado com o correr do tempo. Devem-se distinguir a tristeza e o luto normais da depressão.


Ricardo Moreno é médico psiquiatra e professor do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, e responde algumas perguntas sobre a depressão.
Qual a diferença entre tristeza e depressão?
Tristeza é um fenômeno normal que faz parte da vida psicológica de todos nós. Depressão é um estado patológico. Existem diferenças bem demarcadas entre uma e outra. A tristeza tem duração limitada, enquanto a depressão costuma afetar a pessoa por mais de 15 dias. Podemos estar tristes porque alguma coisa negativa aconteceu em nossas vidas, mas isso não nos impede de reagir com alegria se algum estímulo agradável surgir. Além disso, a depressão provoca sintomas como desânimo e falta de interesse por qualquer atividade. É um transtorno que pode vir acompanhado ou não do sentimento de tristeza e prejudica o funcionamento psicológico, social e de trabalho.
A depressão se divide em leve, moderada e grave. É um engano imaginar que a depressão leve seja menos incapacitante se considerarmos a duração dos sintomas. No entanto, os quadros moderados e graves comprometem mais o indivíduo que fica com baixa produtividade, autoestima diminuída e uma visão distorcida do mundo. Há alguns pacientes que ocupavam cargos importantes, recebiam salários razoáveis, desfrutavam uma condição de vida relativamente boa e pediram demissão, porque não se julgavam merecedores daquele emprego. Isso a curto e a longo prazo provoca desdobramentos complicados e desgastantes para a família e para o indivíduo. Também há pacientes que tentaram o suicídio, alguns ficaram com sequelas importantes e sua atitude pôs em xeque valores éticos, morais e religiosos e criou um conflito traumático na família. Sob o ponto de vista econômico, o indivíduo deprimido representa, ainda, um ônus para si, para a família e para a sociedade.
Como perceber alguém próximo com depressão?
Em geral, o indivíduo com depressão reconhece que está sendo afetado por algo novo, diferente das outras experiências de tristeza que teve na vida. Podemos identificar o comportamento do deprimido pela mudança de atitudes, porque ele deixa de ser o que era, deixa de sentir alegria, apresenta queda de desempenho e passa a agir de forma diferente da habitual.
Quais são os sintomas mais característicos de um quadro depressivo?
São muitos os sintomas da depressão. Talvez o mais evidente seja o humor depressivo, que se caracteriza por tristeza e melancolia, acompanhado por falta de ânimo e de disposição, incapacidade de sentir prazer em atividades habitualmente agradáveis, alterações do sono e do apetite, pensamentos negativos, desesperança, desamparo.
Existe uma contradição que se estabelece nesses quadros. A família vê a pessoa nesse estado e quer que reaja, mas ela não consegue e os familiares se voltam contra o deprimido. Isso é regra?
Essa é uma armadilha em que caem as famílias e o deprimido porque, esgotadas todas as tentativas para estimulá-lo, surge a raiva: “Ele não reage; eu tento, mas ele não quer melhorar”. Tal comportamento reforça a desesperança e a baixa autoestima próprias do indivíduo com depressão. Por isso, é importante esclarecer familiares e paciente que essa incapacidade de reação é uma das características da doença e ajuda a diferenciar o estado patológico do normal. Quando estamos tristes, somos capazes de reagir aos estímulos de prazer. O deprimido dificilmente o consegue. A depressão tira-lhe as forças. Ele não tem como lutar contra ela
As mulheres têm mais depressão do que os homens?
O sexo feminino passa por vários processos hormonais durante a vida: o início dos ciclos menstruais, a gravidez, o parto e, por último, a menopausa. Tudo isso implica alterações na produção dos hormônios sexuais femininos e torna a mulher mais vulnerável. Tanto é assim que no período da gravidez, do parto e da perimenopausa, a depressão ocorre com maior frequência. Após a menopausa, a relação da incidência entre homem e mulher tende a igualar-se, pois nessa fase cessam essas flutuações hormonais femininas.
Em que faixa etária os homens estão mais predispostos a sentir depressão?
Nos homens, a depressão é mais frequente nos adultos jovens, isto é, no final da adolescência e início da vida adulta. Pode-se dizer que o pico da incidência da doença ocorre dos 18 aos 30, 40 anos,  justamente na fase mais produtiva do indivíduo.
Fisiologia e tratamento da depressão
No cérebro existem células nervosas, os neurônios, e substâncias químicas que estabelecem a comunicação entre elas, os neurotransmissores. Em condições normais, a quantidade dessas substâncias é suficiente, mas ela cai consideravelmente durante a crise de depressão. Os medicamentos antidepressivos aumentam a oferta de neurotransmissores e promovem a volta ao estado normal do paciente. O tratamento da depressão mudou muito com a descoberta desses medicamentos que provocam algumas modificações químicas no cérebro pela oferta de substâncias mediadoras que estabelecem a comunicação entre uma célula nervosa e outra durante o processo de transmissão dos sinais. No deprimido, os níveis dos neurotransmissores são baixos. Os antidepressivos bloqueiam o mecanismo de recaptura (impedem que os neurotransmissores retornem à célula de origem) o que aumenta a quantidade dessas substâncias nesse espaço virtual entre os neurônios. Os estados depressivos são provocados por uma disfunção na bioquímica do cérebro o que acarreta manifestações psicológicas e comportamentais.




O tratamento visa a regular essa disfunção e existem medicamentos bastante eficazes nesse aspecto. Nos últimos 40 anos, eles apresentaram uma evolução importante porque, apesar das desvantagens dos efeitos colaterais, promovem uma melhora significativa nos pacientes. Na relação custo-benefício, a decisão tende sempre para o tratamento uma vez que restabelece a qualidade de vida e diminui o risco de morte por suicídio ou outras doenças. O medicamento leva de 10 a 15 dias para começar a ter boa ação antidepressiva. Em compensação, os efeitos colaterais são imediatos. Isso dificulta bastante a adesão ao tratamento e faz com que o paciente tenda a abandoná-lo precocemente.
Existem fatores que disparam o processo depressivo?
Sabemos hoje que existe predisposição genética para a depressão. Os indivíduos nascem com vulnerabilidade para a doença, mas ela não se manifesta em todas as pessoas predispostas. Isso vai depender de vários fatores, chamados estressores, que funcionam como gatilho. Por exemplo, o estresse psicológico provocado por qualquer adversidade da vida, o estresse físico, certas doenças, o consumo de drogas lícitas ou ilícitas e alguns medicamentos de uso contínuo podem precipitar os quadros. Entre as drogas lícitas destaca-se o álcool e entre as ilícitas, as estimulantes como a cocaína e a as anfetaminas.

Segundo Acioly Lacerda, professor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), para que o tratamento para a depressão seja completo, é preciso que a pessoa se submeta a sessões de terapia psicológica e faça mudanças nos hábitos de vida, passando a realizar atividades físicas regularmente, mantendo um período de sono satisfatório, adotando uma alimentação equilibrada e evitando o consumo de álcool e o tabagismo.
 Após ter a depressão diagnosticada, é importante que essa pessoa consulte com frequência um profissional especializado, como o psiquiatra, e siga as orientações, que muitas vezes podem envolver o uso de medicamentos. “A partir do momento em que a síndrome depressiva passa a trazer consequências (como a falta de vontade de fazer atividades das quais a pessoa gosta), é um indicativo de que se deve iniciar o tratamento”, explica o especialista.
Tão importante quanto ir a um especialista para tratar da depressão, é manter o tratamento pelo tempo que for determinado pelo profissional. Lacerda explica que 1/3 dos pacientes para com as recomendações médicas por conta própria após perceber alguma melhora. “As consequências são muito negativas. Quanto mais cedo o tratamento for interrompido, maiores as chances de ser inadequado, de haver recaídas, e o problema piorar”, alerta o psiquiatra.
Os cuidados com a depressão, explica o psiquiatra, têm o objetivo de fazer a pessoa melhorar por completo dos sintomas, uma vez que se trata de uma doença crônica, como a diabetes e a hipertensão e, portanto, sem cura. “Mas, quando o problema é tratado adequadamente, o paciente leva uma vida absolutamente normal”, completa Lacerda.


Assista agora um vídeo que explica um pouco mais sobre a depressão.


Em Breve aprofundaremos mais sobre a Fisiopatologia da depressão.



Fonte:
saudemental.net/depressao.htm
drauziovarella.com.br
pfizer.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário